O CEO da BlackRock, Larry Fink, prometeu democratizar o acesso a empresas fechadas, tradicionalmente restritas aos mais ricos, argumentando que os investidores comuns também devem se beneficiar dos frutos do crescimento econômico.
“Atualmente, muitos países enfrentam uma economia dividida em dois extremos: de um lado, a riqueza gera mais riqueza; de outro, a dificuldade só aprofunda a miséria”, escreveu Fink em sua carta anual aos investidores, publicada nesta segunda-feira (31). “Essa divisão remodelou nossa política, nossas diretrizes e até nossa percepção do que é possível. O protecionismo voltou com força.”
A maior gestora de ativos do mundo passou a enxergar como parte de sua missão “destravar os mercados privados”, afirmou Fink, cuja empresa já comprometeu cerca de US$ 30 bilhões nos últimos 12 meses em aquisições nesse setor.

Segundo ele, o capitalismo tem funcionado “para poucas pessoas” nos últimos anos, o que tem gerado ansiedade em toda a economia. O sentimento de insegurança econômica é maior hoje do que “em qualquer outro momento da memória recente”, afirmou.
Ampliar o acesso a esses investimentos, no entanto, pode ajudar a aliviar essas preocupações, de acordo com Fink.
“Os ativos que definirão o futuro — data centers, portos, redes elétricas, as empresas privadas que mais crescem no mundo — não estão disponíveis para a maioria dos investidores”, disse. “Eles pertencem aos mercados privados, cercados por altos muros e portões que só se abrem para os mais ricos ou grandes participantes institucionais.”
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Fink tem usado suas cartas anuais para abordar tanto o mercado quanto temas sociais e políticos sensíveis. A BlackRock, com participações relevantes em empresas e emissores de títulos em todo o mundo, confere a Fink uma voz influente.
Essas mensagens, no entanto, também têm atraído críticas — especialmente em 2020, quando o CEO afirmou que a sustentabilidade se tornaria o novo padrão de investimento da gestora.
Mudança de identidade
A aposta em empresas fechadas marca o próximo passo na transformação da BlackRock, que busca se tornar a primeira empresa a gerir recursos em escala tanto em ativos tradicionais quanto alternativos. Após uma década de expansão com fundos indexados de baixo custo, a gestora agora vê o futuro em ativos privados mais lucrativos.
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“Fomos, antes de tudo, uma gestora tradicional”, disse Fink. “Era isso que éramos no início de 2024. Mas já não somos mais.”
Nos últimos 14 meses, a BlackRock comprometeu US$ 12,5 bilhões na aquisição da Global Infrastructure Partners e £2,55 bilhões (US$ 3,3 bilhões) pela empresa de dados Preqin. A empresa também está finalizando a compra da gestora de crédito privado HPS Investment Partners, por US$ 12 bilhões.
Ao todo, a BlackRock passará a administrar cerca de US$ 600 bilhões em ativos alternativos, de maior rentabilidade, entrando na disputa com nomes como Blackstone Inc., Apollo Global Management e KKR & Co., que também buscam atrair o investidor pessoa física.
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Na carta, Fink afirma que o tradicional portfólio 60/40 (60% em ações e 40% em títulos) pode não ser mais suficiente para uma diversificação eficiente. A nova referência, segundo ele, pode ser o modelo 50/30/20, com 20% em ativos privados como imóveis, crédito privado e infraestrutura. A demanda global por investimentos em infraestrutura deve alcançar US$ 68 trilhões até 2040, destacou.
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Na semana passada, a empresa começou a oferecer carteiras modelo para investidores de varejo nos EUA que, pela primeira vez, incluem fundos de private equity e crédito privado ao lado de ações e títulos tradicionais. Em média, essas carteiras terão 15% de exposição a ativos privados.
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A BlackRock pretende usar sua escala, tecnologia e os novos dados adquiridos com a Preqin para tornar a avaliação desses ativos mais transparente, permitindo que investidores julguem melhor desempenho, retorno e risco. Isso deve impulsionar mais investimentos — tanto em carteiras prontas quanto em fundos de aposentadoria, explicou o CEO.
Segundo Fink, adicionar ativos privados a fundos de aposentadoria, como infraestrutura e crédito privado, aumentaria os retornos de longo prazo e protegeria contra crises.
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Fundos de pensão costumam superar os planos 401(k) em cerca de 0,5% ao ano, em parte porque investem em ativos alternativos, segundo a BlackRock. Ao longo de 40 anos, esse retorno adicional resultaria em 14,5% a mais acumulado em um 401(k).
Fink defendeu que fundos com data-alvo — padrão em muitos planos 401(k) — são ideais para incorporar ativos privados.
Outros destaques da carta de Fink:
- O dólar norte-americano como moeda de reserva global “não está garantido para sempre”, alertou, dizendo que os EUA precisam controlar sua dívida. Ele sugeriu que a moeda poderia ser substituída por ativos digitais, como o Bitcoin.
- Energia eólica e solar “sozinhas não conseguem manter as luzes acesas com confiabilidade”, e defendeu uma abordagem mais realista sobre o licenciamento e fontes energéticas, incluindo a energia nuclear. “A energia nuclear de hoje não é mais o modelo antigo com torres de resfriamento gigantescas”, disse.
- O avanço da inteligência artificial e dos data centers está elevando a demanda por energia, criando um “dilema inaceitável”: priorizar o consumo residencial de eletricidade ou o das máquinas.
- “Há receio de que a IA elimine empregos”, reconheceu Fink. “É uma preocupação válida. Mas em sociedades ricas e envelhecidas, com escassez de mão de obra, a IA pode ser menos uma ameaça e mais uma tábua de salvação.”
© 2025 Bloomberg L.P.
Fonte da notícia: https://www.infomoney.com.br/tudo-sobre/criptomoedas/feed/.
Título original: as apostas de Larry Fink, da gigante BlackRock
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